Uma nova proposta de intervenção na Dislexia e Síndrome de Irlen

Ler é mais difícil que falar. Enquanto a fala é aprendida naturalmente pelo homem, a leitura é ensinada por meio de um código de criação humana altamente complexo. O bom leitor é aquele que desenvolve as habilidades de decodificação desses códigos de maneira eficiente. Daí a necessidade de conceituarmos a dislexia como uma dificuldade que está relacionada com a percepção do texto escrito. A percepção visual do texto relaciona-se com os movimentos sacádicos e com as fixações do olho. Para Shaywitz, a leitura está relacionada com a percepção visual que é a capacidade de retirar informações e conhecimento do mundo visível. (Shaywitz, 2006). Por outro lado, numa abordagem psicolingüística, a dislexia é uma dificuldade na aprendizagem da leitura relacionada ao reconhecimento da correspondência entre os símbolos gráficos (grafema), o fonema e a transformação dos símbolos gráficos em linguagem verbal.

A descoberta da Síndrome de Irlen, cujo foco está no processamento visual e na sensibilidade à luz, disponibilizou aos profissionais uma ferramenta que ameniza as dificuldades. Estas ferramentas são os chamados “overlays” ou lâminas de contraste e os filtros espectrais que proporcionam conforto na leitura e mais concentração a esses pacientes. O ganho com esse novo método nos faz entusiastas desse recurso, mas, de alguma forma, nos leva a outra inquietação: o que mais podemos fazer para melhorar as dificuldades de aprendizagem relacionadas à leitura e escrita dessas pessoas?

“Não sabe se organizar”, “é desatento”, “começa e não termina uma tarefa”, “é impulsivo”, “tem boas idéias, mas não consegue colocá-las no papel”, “estuda, mas não consegue tirar boas notas na escola”, “não compreende o que lê” isso sem falar na auto estima comprometida. Essa é uma realidade que encontramos quando se trata de pessoas com dificuldades de aprendizagem.


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Entrevista

1-No geral, você sente a necessidade do trabalho de um psicólogo junto aos educadores? por que ?

Bem, acredito que seria importante a atuação do psicólogo na escola. Mas teríamos que realmente definir seu papel no contexto escolar.
O psicólogo educacional na minha visão tem como objetivo otimizar e facilitar o cognitivo, emocional, social e motores do aluno.

2-Na escola onde você trabalha atualmente, qual seria a importância do trabalho psicólogo e no momento quem seriam mais beneficiados?

O psicólogo educacional tem importante atuação na relação família escola, aprendizagem e desenvolvimento do aluno. Os benefícios vêm de uma boa integração entre ambos. O trabalho desenvolvido na escola e na família oportuniza ampliar seu repertoria como sujeito de aprendizagem e desenvolvimento humano.

3-Como psicopedagoga, em sua opinião, qual seria a melhor forma de inserção do psicólogo na escola?

A implantação de uma equipe técnica composta de distintos profissionais para o apoio aos educadores é de grande valia. O sistema educativo é uma bandeira de luta com empenho e compreensão no fenômeno ensino aprendizagem.

4-Nesta etapa de fim de ano, quais os maiores problemas dos alunos, e como vocês trabalham com isso?

Nesta etapa, espera-se que o aluno possa ser promovido. Os contatos com os pais foram feitos durante o ano. São meios mais eficazes para o resultado educacional positivo.

5-Os pais aceitam bem quando se é indicado um trabalho psicológico junto com a escola?

Ao conversar com o aluno, ele apresenta comportamentos, para resolver é importante envolver os pais nesse processo. Geralmente após várias conversas dá certo!
“ O sucesso depende da gente.” (Cleide)

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ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO SEGUNDO JEAN PIAGET

De acordo com Piaget, o desenvolvimento cognitivo é um processo de sucessivas mudanças qualitativas e quantitativas das estruturas cognitivas derivando cada estrutura de estruturas precedentes. Ou seja, o indivíduo constrói e reconstrói continuamente as estruturas que o tornam cada vez mais apto ao equilíbrio.
Essas construções seguem um padrão denominado por Piaget de ESTÁGIOS que seguem idades mais ou menos determinadas. Todavia, o importante é a ordem dos estágios e não a idade de aparição destes.



Sensorio-motor (0 à 2 anos):

A partir de reflexos neurológicos básicos, o bebê começa a construir esquemas de ação para assimilar mentalmente o meio. A inteligência é prática. As noções de espaço e tempo são construídas pela ação. O contato com o meio é direto e imediato, sem representação ou pensamento.
Exemplos:O bebê pega o que está em sua mão; "mama" o que é posto em sua boca; "vê" o que está diante de si. Aprimorando esses esquemas, é capaz de ver um objeto, pegá-lo e levá-lo a boca.

Pré-operatório (2 à 7 anos)

Também chamado de estágio da Inteligência Simbólica . Caracteriza-se, principalmente, pela interiorização de esquemas de ação construídos no estágio anterior (sensório-motor). A criança deste estágio:
É egocêntrica, centrada em si mesma, e não consegue se colocar, abstratamente, no lugar do outro.
Não aceita a idéia do acaso e tudo deve ter uma explicação (é fase dos "por quês").
Já pode agir por simulação, "como se".
Possui percepção global sem discriminar detalhes.
Deixa se levar pela aparência sem relacionar fatos.
Exemplos:Mostram-se para a criança, duas bolinhas de massa iguais e dá-se a uma delas a forma de salsicha. A criança nega que a quantidade de massa continue igual, pois as formas são diferentes. Não relaciona as situações.

Operatória-concreto ( 7 à 12 anos)

A criança desenvolve noções de tempo, espaço, velocidade, ordem, casualidade, ..., já sendo capaz de relacionar diferentes aspectos e abstrair dados da realidade. Não se limita a uma representação imediata, mas ainda depende do mundo concreto para chegar à abstração.desenvolve a capacidade de representar uma ação no sentido inverso de uma anterior, anulando a transformação observada (reversibilidade).
Exemplos:despeja-se a água de dois copos em outros, de formatos diferentes, para que a criança diga se as quantidades continuam iguais. A resposta é afirmativa uma vez que a criança já diferencia aspectos e é capaz de "refazer" a ação.


Operatório-formal ( 12 em diante)

A representação agora permite a abstração total. A criança não se limita mais a representação imediata nem somente às relações previamente existentes, mas é capaz de pensar em todas as relações possíveis logicamente buscando soluções a partir de hipóteses e não apenas pela observação da realidade.Em outras palavras, as estruturas cognitivas da criança alcançam seu nível mais elevado de desenvolvimento e tornam-se aptas a aplicar o raciocínio lógico a todoas as classes de problemas.
Exemplos: Se lhe pedem para analisar um provérbio como "de grão em grão, a galinha enche o papo", a criança trabalha com a lógica da idéia (metáfora) e não com a imagem de uma galinha comendo grãos.




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Escola é

... o lugar que se faz amigos.
Não se trata só de prédios, salas, quadros,
Programas, horários, conceitos...
Escola é sobretudo, gente
Gente que trabalha, que estuda
Que alegra, se conhece, se estima.
O Diretor é gente,
O coordenador é gente,
O professor é gente,
O aluno é gente,
Cada funcionário é gente.
E a escola será cada vez melhor
Na medida em que cada um se comporte
Como colega, amigo, irmão.
Nada de “ilha cercada de gente por todos os lados”
Nada de conviver com as pessoas e depois,
Descobrir que não tem amizade a ninguém.
Nada de ser como tijolo que forma a parede,Indiferente, frio, só.
Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar,
É também criar laços de amizade,É criar ambiente de camaradagem,
É conviver, é se “amarrar nela”!
Ora é lógico...
Numa escola assim vai ser fácil!Estudar, trabalhar, crescer,
Fazer amigos, educar-se, ser feliz.
É por aqui que podemos começar a melhorar o mundo
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(Paulo Freire)

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Breve introdução, do que é a Psicologia Educacional :

A Psicologia Educacional é um ramo da psicologia dedicado às problemáticas da educação e do processo ensino-aprendizagem de crianças e adultos. Enquanto ciência, a Psicologia Educacional centra-se no estudo dos mecanismos de aprendizagem e na eficácia das estratégias educacionais usadas em contexto escolar, bem como, no desenvolvimento de um projeto educativo adequado.
O trabalho do psicólogo educacional é desenvolvido em colaboração com os educadores (professores e pais) no sentido de tornar o processo ensino-aprendizagem mais efetivo. Desta forma, o psicólogo educacional tem um papel importante na avaliação e desenvolvimento de um plano de intervenção para crianças com necessidades educativas especiais - NEE, nomeadamente, dificuldades de aprendizagem específicas (p.e. dislexia, disortografia, etc.), perturbações comportamentais (p.e. perturbação de hiperatividade e défice de atenção) ou perturbações emocionais (p.e. ansiedade de desempenho, auto-estima ou auto-conceito diminuídos).








sexta-feira, 6 de novembro de 2009

http://ricardocimerman.blogspot.com/2007/10/psicologia-educacional.html

Um comentário:

  1. Gostei da matéria que fala sobre educação x marginalidade, trazendo duas teorias: não-críticas e crítico-reprodutivas, esse assunto chamou nossa atenção.

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